DA CORRUPÇÃO À CRISE. Que fazer?



CONVITE

Amigas e amigos:


Vive-se um tempo de angústia e desesperança pela visível e acelerada deterioração da qualidade da democracia. Vive-se uma crise sem prazo, num país acossado pela razão neoliberal que compromete as conquistas socias e identitárias das ultimas décadas e do sonho coletivo despertado por um cravo de Abril.

Cumpre procurar soluções, pensar e fazer política honesta, elaborar mecanismos de reação e mobilização da sociedade civil. É preciso empurrar de baixo para cima, dar respostas coletivas assentes na auto-organização, na radicalização democrática e nos valores da cidadania.

Não podemos nem devemos esperar mais!

À semelhança do que já organizámos sob a legenda Radiografias do nosso tempo, propomos para Setembro, Outubro e Novembro. uma sessão por mês, na Sociedade Portuguesa de Autores, às 18h30, subordinadas ao tema global "O E(e)stado a que chegámos".

Temos a convicção que desta forma a Associação Abril poderá contribuir para suscitar o debate, lutar contra a indiferença e a apatia e catalisar a autoestima, a ação e a coragem em todos nós.

Não podemos nem devemos esperar mais!


23 de Setembro

Da corrupção à crise, com Paulo de Morais


28 de Outubro

O papel do Estado no estado a que chegámos, com Raquel Varela


25 de Novembro

a designar


Gostaríamos muito de contar com a vossa presença.


Saudações associativas e um abraço com as esperanças de Abril.


Evento no Facebook:









Zeca - Cantor da Utopia e dos Valores

Esta iniciativa foi uma actividade conjunta com a AJA, núcleo de Lisboa, sediada provisoriamente na nossa sede e com a qual tivemos muito gosto em trabalhar. 


Devo, contudo, salientar que para nós, enquanto Associação Abril, é sempre uma grande honra organizar  ou coorganizar algo que tenha a ver com José Afonso. Para lá da nossa paixão pela sua música, temos a enorme admiração pelo seu exemplo cívico, pelo inconformismo, pela sua defesa da dignidade, pela sua  independência de espírito. Grande respeito pelo ser humano, pelo defensor de causas a que aliou à grandeza da sua música um lirismo tocante, pleno de ternura e emoção. Com a sua postura cidadã e com a sua arte, na linha dos trovadores, denunciadores da injustiça social, da pobreza, das desigualdades de género, mas também arautos da liberdade, dos sonhos e da utopia, coloca-se a velha questão do poder da arte e da sua (in)capacidade de melhorar o mundo. E as questões são muitas: Qual o poder transformador da arte, a sua relação com a política, com o social? Pode e deve a arte ser revolução, resistência, reinvenção do mundo, esperança e futuro da humanidade? Ou deve a arte habitar um universo próprio, da “arte pela arte”, desligada dos contextos político-sociais em que acontece? A arte é silêncio ou grito? É indiferença ou vigilância? Quanto a nós, para Zeca Afonso, a arte, a sua música foi sempre vigilante, atenta ao mundo desigual que o rodeava, fruto de uma generosidade, compreensão e compaixão profundas pelos seus iguais, sem nunca perder a qualidade, o lirismo, a emoção, a mestria. Ao lado de grandes músicas de intervenção politica e social, surge a voz ingénua do povo, o canto tradicional, a ternura emotiva, o valor dos sentimentos, do amor pela vida que corre. 


Foi sobre tudo isto e muito, muito  mais, sobre “ Zeca Afonso, cantor da Utopia e dos Valores”, que decorreu a sessão, na SPA,  brilhantemente conduzida pelo musicólogo Rui Vieira Nery que nos levou, através de apontamentos musicais pertinentes, a olhar mais uma vez o homem, o músico, o ser humano que um dia habitou o nosso espaço e nele deixou para sempre a marca indelével da sua arte e do seu exemplo. Obrigada Zeca, obrigada Rui Vieira Nery.



Zeca Afonso, por Rui Vieira Nery, na SPA.


31 de MAIO, às 18.30, na Sociedade Portuguesa de Autores, o musicólogo RUI VIEIRA NERY vai falar-nos de ZECA AFONSO - CANTOR DA UTOPIA E DOS VALORES. Organização conjunta da Associação Abril e da Aja Lisboa, a não perder!

Festival dos Cravos de Abril 2013

Não vou falar sobre cada uma das actividades. Decorreram de 17 de Abril a 17 de Maio.Duas datas de memória, de revolta, de inconformismo. A primeira lembrando o início da luta estudantil, em 1969, em Coimbra e a segunda o gérmen da "Grândola, vila morena",  na cabeça de Zeca Afonso, canção emblemática para o 25 de Abril e para os dias de hoje.
Foram bastantes iniciativas, conforme o cartaz mais abaixo. As fotografias dizem alguma coisa sobre elas. Mostram que quisemos fazer um percurso entre o passado e o presente com exemplos de luta e resistência. Fomos a Gaza com uma peça de teatro; revisitámos quem afrontou Salazar, sem medo; homenageamos Saramago e a sua postura frontal contra o sistema; realizámos o Arraial Popular, ou dos Cravos,  com canções de ontem e hoje, com jovens e menos jovens; o Concurso de fotografia demonstrou interesse por parte dos concorrentes e a importância do significado do 25 de Abril na vida das pessoas; e  ainda tivemos connosco a Solidariedade ao vivo, na Exposição de Pintura, a nosso favor,  de Maria Vitória Pato. O nosso sentimento é de gratidão e alegria pois conseguimos concretizar este projecto completamente desligados de qualquer ajuda institucional. Só com a nossa força à qual se juntou a das Associações participantes e a dos amigos. A todos e todas o nosso agradecimento pelo apoio incondicional e decisivo.
Mas devemos confessar que temos pena de que os poderes públicos ainda não tenham entendido o interesse  para a cidade de uma iniciativa como esta. Terá ficado demonstrado que este ano não houve qualquer iniciativa sobre o 25 de Abril  porque nós não a realizámos?

Neste pequeno texto de reflexão final sobre o Festival dos Cravos de Abril, lembro as  palavras de José Fanha que dizem:

"Era Abril que veio e que partiu
Abril a deixar sementes prateadas
germinando longamente
no olhar dos meninos por haver"

Ao celebrarmos 39 anos de Abril, fica-nos a sensação amarga de sonhos por haver, de sementes que germinam tão longamente que secam com a falta da água redentora da confiança, da honestidade, da responsabilidade, do profissionalismo e da defesa do bem comum. Secaram e não completaram o seu ciclo de flor, fruto ou árvore, ou vida animal, humana. Abril veio e partiu. chegou com a primavera a um jardim que o poeta plantou á beira-mar, florindo cravos nas espingardas e nos sorrisos, levando ao rubro a alegria e a metáfora das portas que abriu. Mas Abril partiu. Partiu deixando a desilusão num povo plantado junto ao mar que se alarga e se levanta em turbilhão de espuma e de nada, para lá do pensamento, da fuga e do desespero. Abril partiu deste jardim que era nosso, semeado pela vontade, pelo fulgor e pela esperança e que agora é só passado. Um jardim seco e triste de onde cortaram todas as rosas. E o nosso futuro vai à procura de outros rumos, outras estrelas, outras montanhas e rios, outros mares. O nosso futuro vai-se em novos e velhos, deixando o país no cais da desesperança. E nós mudos de espanto e desencanto, olhamos as nuvens que nos envolvem, tentando ver o sol.
No entanto, a vida, o instinto vital  da sobrevivência é muito forte e, apesar de tudo, sentimo-nos invadir por uma força que não sabemos de onde vem e insistimos teimosamente em realizar este Festival, lembrar  o 25 de Abril com  tudo o que  nos trouxe e da opressão de que nos libertou e como nos restituiu a dignidade de ser gente. E assim, ondas fortes de resistência e emoção batem nas amuradas do lado esquerdo do peito e salpicam-nos o rosto de gotas salgadas que deslizam dos olhos molhados e correm até à boca que, de repente, se faz voz e grito. E a voz canta "o povo é quem mais ordena" e as mãos são bandeiras desfraldadas ao vento e o corpo é arma da cantiga que diz "basta, já!". Por isso continuamos, celebrando esse Abril, sempre! Não deixando esmorecer a nossa alma, acreditando na esperança. Queremos fazer Abril acontecer de novo! Não queremos esquecer esse contentamento que desabrochou inesperadamente em cravos vermelhos num dia de Abril de promessas e canções, conquistado por "semeadores de horizontes", armados de utopias, no gesto de criar um mundo novo com "gente igual por dentro e gente igual por fora". Por isso dizemos, voltando a J.Fanha que Abril deixou as suas sementes e que estas continuam a germinar. Os meninos irão colher essas sementes e transformá-las em luta e por um mundo melhor.
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Viva o 25 de Abril, sempre!
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