A Guerra Colonial e suas consequências.

CONVITE

Debates sobre a Guerra Colonial e suas consequências na sociedade portuguesa.

1.º debate.

O mês de Maio começa sob o signo da luta pelas liberdades. Nós vamos terminá-lo com a evocação de uma guerra de opressão mas que também foi uma luta pela liberdade - a guerra colonial, a guerra de África, a guerra de libertação.

A guerra que se travou em África entre 1961 e 1974 foi um tempo de sofrimento e de isolamento do país, que deixou marcas traumáticas na sociedade portuguesa, mas contribuiu de forma decisiva para o 25 de Abril, sendo este o acontecimento mais marcante da história portuguesa na segunda metade do sec xx.

Disso se vai falar no debate "Estórias dentro da História: a guerra colonial, o 25 de Abril, e Depois ", que terá lugar no dia 31 de Maio, às 19.00h, na sede da Associação Abril, com a presença dos militares de Abril João Andrade e Silva e Mário Tomé.

Contamos com a vossa presença e o vosso contributo.

Festival dos Cravos de Abril 2011



O Arraial. Active ou desactive o som em cada comando. Abril foi cantado de muitas formas.


"Dias impossíveis de contar. A multidão misturada com os soldados e marinheiros. Cravos (onde nasceram tantos cravos?) nas espingardas e nas mãos de toda a gente..." Mário Dionísio, Passageiro Clandestino (inédito).

Abril é o mês de todas as esperanças para os portugueses. A Associação Abril apossando-se do seu nome e também do seu valor simbólico tem assumido na prática o que está definido na declaração de princípios e nos estatutos que referem como essencial da sua acção, o desenvolvimento social e cultural, a cidadania activa e o exercício da democracia participativa.

Nessa base estabelecemos para o biénio do nosso mandato promover actividades que vão ao encontro desses objectivos, pois consideramos que perante a realidade que nos cerca é absolutamente pertinente suscitar a reflexão, o debate, o esclarecimento, a aquisição de conhecimento e de saber. Consideramos que desse modo se pode actuar no combate ao conformismo e à apatia e fomentar a intervenção e participação cívicas no nosso quotidiano, no sentido de valorizar o papel da opinião pública como reforço e legitimação de uma democracia com mais qualidade. Ainda nesta perspectiva, elegemos como ideia-base do nosso mandato a "cultura do desassossego" e, foi nesse sentido, que para além de outras iniciativas que temos levado a cabo, resolvemos este ano meter mãos num projecto ambicioso que denominámos "Festival dos Cravos de Abril"que submetemos à apreciação da Autarquia e que foi bem acolhido.

Relembrando um pouco o passado, começámos a festejar o 25 de Abril na altura do seu 30.º aniversário, com um dia de Arraial, no Largo do Carmo, no intuito de trazer para a rua as pessoas, como nesse outro dia claro e limpo, como disse a poeta. Passámos depois a dois dias de comemoração e, este ano, avançámos para cinco dias e denominámos esta Festa de Festival, onde incluímos o Arraial, já quase uma "tradição" para os Lisboetas. Demos este salto significativo não só porque o devemos à História mas também por exigências da realidade. A incerteza dos tempos e de certas opções político-sociais que consideramos ser uma traição a muitas gerações de homens e mulheres, provocando o fim de muitas esperanças e a interrupção de muitos sonhos impelem-nos à acção. Nestes tempos de crise a vários níveis, não só política, como social, psicológica e mesmo de identidade, sentimos que têm sido afectados os alicerces políticos, intelectuais e morais e, por consequência, tem sido lesada a democracia no seu âmago. Por isso, o nosso sentimento de urgência em tentar mobilizar as consciências para esta questão primordial em que se torna imperioso resgatar os valores de Abril, evocar os ideais que nortearam a revolução, exigir que Abril não seja esquecido e se cumpra, não apenas Sempre, mas também Mais, na fórmula alterada de "25 de Abril, sempre!" e mais!, porque os tempos mudam e exigem novas qualidades!

Nesta perspectiva de recuperação da esperança e da vida tentámos nestes cinco dias, agitar as consciências e incentivar à acção, através de duas propostas: a primeira pelo Concurso de Fotografia sob o tema "Uma imagem contra..." e pelos Direitos Humanos e a segunda com o mote: "A palavra saiu à rua para..." exigir, lutar, dizer, cantar, defender, abolir, etc, etc., pelos Direitos Humanos. Foram cinco dias em que tentámos abranger diversas áreas de intervenção que concretizassem aqueles valores: usamos a imagem, através da fotografia e dos documentários, e usámos a palavra, pelas palestras, a música e o canto.


No primeiro dia, tivemos o lançamento do Festival numa sessão no Quartel do Carmo, lugar emblemático onde caiu a ditadura. Foi deveras curioso tomar consciência da mudança dos tempos ao recordar que em Abril de 1974, do lado de fora dos portões do quartel da GNR gritávamos e exigíamos a liberdade e, agora, passado 37 anos estávamos dentro do quartel a lembrar esse dia glorioso e a entender melhor o valor da democracia e também como ainda temos tanto caminho a percorrer. Falou-se de Direitos Humanos pela palavra de Alípio de Freitas e pela música e voz de Luísa Amaro e Rui Sequeira.

No segundo dia, teve lugar uma conferência, para a qual foram convidados duas personalidades muito especiais, os Profs. Boaventura Sousa Santos e Roque Amaro, que para além de currículos invejáveis, com vários artigos e livros publicados, são pessoas com um pensamento político - social contemporâneo, não alinhado pelas posições convencionais, com actividade cidadã e ligados aos movimentos sociais. Duas vozes com mensagens novas, com propostas de uma alternativa social e política e que rumam contra a corrente, perante o tsunami com que nos pretendem assolar, como sejam a inevitabilidade, os pontos de vista únicos e uniformes, veiculados através das vozes concordantes e submetidas da comunicação social. Lançámos-lhes o repto no sentido de nos apresentarem a sua perspectiva sobre a questão se haveria alguma alternativa diferente e se poderíamos pensar em novos paradigmas civilizacionais, perante as rupturas e desafios com que hoje nos deparamos, bem como a sua implicação directa com a qualidade da democracia, com a cidadania e com o modelo económico vigente. Para nossa satisfação eles disseram que sim. Foi uma sessão muito participada onde surgiram novos caminhos de esperança mas também de luta e de apelo à cidadania activa e participativa. Esta sessão foi gravada e esperamos poder divulgá-la, na íntegra, aqui neste espaço.

No terceiro e quarto dias tivemos a projecção de dois documentários sobre o antes do 25 de Abril. Diana Andringa e Susana Sousa Dias são duas realizadoras comprometidas, que se preocupam em não deixar apagar a memória e consideram, como nós, que é muito importante mostrar o que aconteceu antes do 25 de Abril para que não se repita. Nesses documentários, extremamente emocionantes e pedagógicos, percebemos como é preciso evocar os nossos fantasmas históricos para podermos avançar, apercebermo-nos da crueza e obscenidade da ditadura e reconhecemos o sacrifício e a luta daqueles homens e mulheres, que pagaram com a tortura ou a vida a defesa das suas convicções e ideais de liberdade. Com essas imagens de uma realidade concreta, nua e chocante entendemos melhor e pudemos por em paralelo o que foi a vida antes e o que veio depois, assim como o valor das conquistas de Abril. Mas também foram um aviso de que a História não dá nada como definitivamente adquirido, muito menos a Liberdade, e ainda um alerta e para o que falta realizar em democracia.

No quarto dia ainda tivemos actividades com crianças, incluídas na Feira do Livro de Lisboa. Através de uma história e de um jogo sobre o 25 de Abril quisemos, de uma forma lúdica e pedagógica, ensinar um pouco do ambiente histórico do antes e do depois do 25 de Abril. As crianças vibraram com as actividades mas notámos um desinteresse generalizado sobre o assunto, bem como falta de empenhamento e de envolvimento por parte dos responsáveis escolares. Concluímos que há muito a fazer neste campo.

Por fim, tivemos o 8.º Arraial comemorativo do 25 de Abril, durante dois dias, este ano no Jardim António Nobre, também conhecido por Jardim de S. Pedro de Alcântara, pois o Largo do Carmo ficou interdito devido a problemas de segurança. O novo espaço é magnífico, embora sem o valor simbólico do Largo do Carmo, pelo que para nós foi quase como se tudo acontecesse pela primeira vez. O tempo não ajudou mas não impediu que tivesse corrido bem. Sob a temática "a palavra saiu à rua para...", tivemos a participação activa de 32 Associações com as suas manifestações gastronómicas e culturais e também com um forte conteúdo político-social, e que aderiram a esta ideia e a exploraram de acordo com os seus objectivos específicos. Em palco, contámos com participantes individuais e bandas de música que percorreram estilos diversificados que foram desde a música ligeira e popular à música de intervenção, abrangendo territórios tão diferentes como a África, a Galiza, a Catalunha, Portugal, a Arábia, num multiculturalismo que muito nos honrou, e animaram aquele lindo espaço pela noite fora.

E nesses dois dias fizemos este chamamento, agora num novo lugar: venham cantar a Grândola num Jardim de poetas - venham do miradouro lançar sobre os telhados o grito da liberdade, nascida no dia 25 de Abril - venham espreitar o castelo e despedir cantigas como setas, reivindicando justiça social, solidariedade e ternura - venham mirar o Tejo e deixar o pensamento correr pelas águas à conquista da esperança - venham olhar as árvores que dão cor à cidade e cheirar o azul dos jacarandás que começam a despontar, o amarelo atrevido das ipuanas e os tapetes avermelhados das últimas flores das olaias - venham ver esta luz branca e serena de Lisboa e fazer ecoar o tambor da paz - venham mais cinco, tragam todos os amigos maiores que o pensamento e vejam em cada rosto igualdade!