Zeca - Cantor da Utopia e dos Valores

Esta iniciativa foi uma actividade conjunta com a AJA, núcleo de Lisboa, sediada provisoriamente na nossa sede e com a qual tivemos muito gosto em trabalhar. 


Devo, contudo, salientar que para nós, enquanto Associação Abril, é sempre uma grande honra organizar  ou coorganizar algo que tenha a ver com José Afonso. Para lá da nossa paixão pela sua música, temos a enorme admiração pelo seu exemplo cívico, pelo inconformismo, pela sua defesa da dignidade, pela sua  independência de espírito. Grande respeito pelo ser humano, pelo defensor de causas a que aliou à grandeza da sua música um lirismo tocante, pleno de ternura e emoção. Com a sua postura cidadã e com a sua arte, na linha dos trovadores, denunciadores da injustiça social, da pobreza, das desigualdades de género, mas também arautos da liberdade, dos sonhos e da utopia, coloca-se a velha questão do poder da arte e da sua (in)capacidade de melhorar o mundo. E as questões são muitas: Qual o poder transformador da arte, a sua relação com a política, com o social? Pode e deve a arte ser revolução, resistência, reinvenção do mundo, esperança e futuro da humanidade? Ou deve a arte habitar um universo próprio, da “arte pela arte”, desligada dos contextos político-sociais em que acontece? A arte é silêncio ou grito? É indiferença ou vigilância? Quanto a nós, para Zeca Afonso, a arte, a sua música foi sempre vigilante, atenta ao mundo desigual que o rodeava, fruto de uma generosidade, compreensão e compaixão profundas pelos seus iguais, sem nunca perder a qualidade, o lirismo, a emoção, a mestria. Ao lado de grandes músicas de intervenção politica e social, surge a voz ingénua do povo, o canto tradicional, a ternura emotiva, o valor dos sentimentos, do amor pela vida que corre. 


Foi sobre tudo isto e muito, muito  mais, sobre “ Zeca Afonso, cantor da Utopia e dos Valores”, que decorreu a sessão, na SPA,  brilhantemente conduzida pelo musicólogo Rui Vieira Nery que nos levou, através de apontamentos musicais pertinentes, a olhar mais uma vez o homem, o músico, o ser humano que um dia habitou o nosso espaço e nele deixou para sempre a marca indelével da sua arte e do seu exemplo. Obrigada Zeca, obrigada Rui Vieira Nery.