Foi bonito. Confraternizou-se, fez-se alegria e reflectiu-se. Muito obrigada, amigas e amigos, por terem estado connosco nesse dia de festa. Obrigada a todas as representações das várias Associações presentes.
Transcrevo um pequeno texto que na altura li, pois devido à gripe que ainda carregava desde a China, tive receio de esquecer algo que gostaria de mencionar...
"Na viagem longa, difícil e febril até Lisboa tive bastante tempo para pensar, pensar neste nosso planeta, nesta nossa terra tão cheia de contradições, em problemáticas que levam a tantos recuos e também a tantos avanços! Até me convenci que mesmo quando se recua, se avança sempre em algum sentido... (talvez fosse da febre!) e a Abril não me saía da cabeça. Pensei que esta viagem da Abril, de quase 25 anos desde a Rua de S. Pedro da Alcântara para aqui, para a Rua Castilho, deve ser vista como algo de positivo, embora no início nos parecesse bastante terrível. Depois de uma espécie de pânico, da expressão de emoções que traduziam memórias guardadas em gavetas de saudade e de alguma nostalgia, foram dominantes as memórias guardadas como boas experiências, como conhecimento, como vida. Enfim, fomos à luta!
Tivemos sorte. Logo vários amigos acorreram a oferecer abrigo, um colo acolhedor, uma palavra de conforto. De entre outros e vários a quem agradecemos, devemos salientar e agradecer à BASEFUT, em especial à Manuela Varela que disponibilizou uma sala, à Casa do Brasil de Lisboa e seus Directores que também nos ofereceram uma sala, e, por último, agradecer ao CRC, onde acabámos por ficar, nas pessoas do Dr. Guilherme de Oliveira Martins, da Cristina Clímaco e do Germano Cleto, pela sua contribuição e empenhamento em nos proporcionar este espaço. Também agradecer a Vitória Vaz Pato que estabeleceu um primeiro contacto com o CRC, bem como à Dra. Manuela Silva.
Neste contexto, houve urgência em ganhar coragem para a mudança e para os novos desafios, fugindo da tentação de baixar os braços, porque é sempre mais fácil sucumbir ao desânimo e à inacção. Sabemos como é difícil lutar pela felicidade, como dá trabalho regressar a um novo quotidiano e pensar como receber os amigos com a dignidade que merecem. Mas juntos vencemos e juntos reunimos a força necessária e o alento que nos deu energia para continuar.
Para além do mais, devíamos isso aos sócios fundadores, que aqui queremos lembrar em jeito de homenagem singela, e também agradecer a presença de todos, na pessoa de José Vaz Pato. Ele com outros e outras sonharam, há 25 anos, com uma Associação que pudesse ser como que um observatório do percurso da democracia que tinha nascido recentemente. Não podíamos defraudar esses companheiros de uma aventura tão expressiva, plena de sonhos criativos, programadores de tantas viagens e descobertas pelos caminhos da democracia participativa, lema maior desta Associação. Por isso, o respeito pela memória que é de todos, minha também, de toda a gente que amou e ama a Abril e também amou e continua a amar Abril, esse momento mágico, com a esperança dos jovens, a persistência dos menos jovens e a paciência e sabedoria dos velhos. Um pedaço das suas vidas será sempre da Abril e assim estarão connosco em todas as actividades, com o reconhecimento e a amizade que merecem por nos terem ensinado a humildade e a fé em nós mesmos. O sonho era e continua a ser grande e a coragem e a determinação também, inspirados no pensamento político de MLP, nessa ideia maior mas não utópica, de mudança e transformação. De mudar o mundo e de respeitar o meio ambiente, de mudar o paradigma de desenvolvimento, baseados na democracia participativa, em que cada um é dono do seu destino e lhe compete mudar de vida, mudando a vida, através do exercício de uma cidadania activa e de compromisso.
Não queria deixar de referir que vivemos tempos em que concluímos, um pouco amargamente, que falta qualidade à democracia. A democracia é jovem, imperfeita, incompleta, porque ainda não dá espaço à autonomia e dignidade das pessoas, à justiça social, ao respeito pela alteridade do outro. Há ainda e sempre a necessidade de garantir a soberania do direito sobre o poder, ainda impera a corrupção quase legalizada, a irresponsabilidade dos dirigentes, a perversão dos valores e a falta de participação individual activa e de compromisso perante esta realidade.
Por isso gostaria de evocar as palavras de Guilherme de Oliveira Martins, nosso anfitrião, que são o corolário deste tema ao dizer:"daí que a prevenção da democracia deva basear-se numa cidadania activa. E o Direito é o mediador entre as liberdades e a organização, pondo no centro os acontecimentos, o compromisso das pessoas e a dignidade humana".
Dentro do nosso plano da actividades para este mandato propusemo-nos trabalhar questões relacionadas com "a cultura do desassossego". Temos desenvolvido actividades que questionam a realidade e confrontámos a apatia e a inércia. Neste espaço novo vamos prosseguir. Começámos aqui hoje. Porque consideramos que a cultura deve ser globalizada e que o acesso à cultura é um direito fundamental do ser humano. Por isso, propomos este contributo de confraternização e de convívio, porque sentimos que viver em conjunto faz do passado e do futuro, um presente sempre reinventado, como o de hoje, quando temos aqui tantas pessoas que quiseram partilhar connosco bons momentos em que a arte e a solidariedade imperam, com a presença destes amigos especiais que vão abrilhantar a nossa festa. O nosso agradecimento carinhoso a, Luanda Cozetti, Celina da Piedade, José Fanha e Norton Daiello . "
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