Neste ano em que a Associação Abril celebra 30 anos, iniciámos as nossas
actividades em 2016, na Sociedade Portuguesa de Autores, com a evocação de Maria de Lourdes
Pintasilgo tendo em vista não só uma pequena homenagem mas também recuperar
o seu pensamento político-social. Completam-se também 30 anos sobre a sua
candidatura à presidência da Republica, tendo sido (até 2016!) a primeira
mulher a propor-se para esse cargo, depois de ter sido a primeira mulher Primeira-ministra
de Portugal.
Esta evocação é distribuída por três sessões, com um tema geral muito caro
a Maria de Lourdes Pintasilgo que ela definiu com a chancela "Cuidar o
Futuro", em que foram abordados temas que vão desde a democracia
paritária à democracia cultural e ao desenvolvimento e qualidade de vida, numa
visão de presente e futuro.
Como singela homenagem a Maria de Lourdes Pintasilgo (MLP), que denominamos
“mulher das sociedades futuras”, ou “mulher das cidades futuras”, como também
foi apelidada, podemos ainda dizer dela que foi uma semeadora de horizontes,
expressão roubada a Anselmo Borges sobre outro assunto, mas que se ajusta muito
bem a MLP, ao seu pensamento e à sua ação.
“Cuidar o Futuro” , clamava MLP, pois só com esse pensamento se pode refletir
sobre o presente, tentar mudar o presente de uma forma construtiva, pugnando
sempre pela dignidade dos seres humanos. Mas ao “cuidado” juntou ainda um
aliado de peso “a ternura”. Para MLP são a ternura e o cuidado que criam um
universo de excelências, de significações existenciais, daquilo que vale e
ganha importância em função do qual se pode sacrificar o tempo, o empenho, e,
às vezes, até a vida.
MLP considerava que a Raiz da nossa crise cultural, económica e social é
uma aterradora falta de cuidado e ternura de uns para com os outros, de todos
para com a natureza e portanto para com o nosso próprio futuro.
MLP estava convicta sobre a importância da ligação entre ideias e ação, na
certeza de que não deveria haver cortes entre economia e política, entre meios
e fins, entre eficiência e equidade, entre métodos e valores, procurando
associar a tudo isto o rigor, a democracia, nomeadamente a democracia participativa.
Por isso pugnava por ir ao encontro de uma maior participação da opinião
pública, de ouvir a voz dos cidadãos, de despertar consciências, educar para a
cidadania, para que as pessoas se deem conta de que ninguém pode pensar por
elas, de que elas têm que ser donos do seu próprio destino, da sua própria
história.
MLP reclama o desassossego, o bulir com, ideias feitas, a necessidade de
agir, mesmo com a palavra, mudar a vida, mudando de vida.
MLP defende a Liberdade como vivência, como um momento de consciência.
MLP indignou-se com as guerras que viu deflagrar, com a injustiça, defendo
uma ética de futuro, de termos o pensamento nas vítimas da História, o dever de
agir e não esquecer.
MLP reage contra a perversão do liberalismo e neoliberalismo que vão
matando a humanidade existente nos seres humanos. Almeja um pacto de futuro e
esperança entre os povos, entre as religiões, pela Natureza que vê muito
ameaçada.
MLP teve um pensamento muito particular virado para Mulher. Quer colocar a
mulher no lugar digno e ativo dentro da sociedade, pois ser mulher é ter um
papel ativo na construção de um mundo novo, é “alargar as fronteiras do
possível”.
MLP era uma mulher de causas, de ação, determinação e entusiasmo, ousada, irreverente,
inovadora e lutadora. Dizia muitas vezes “nunca ninguém levantou voo que não
fosse contra o vento”.
Nós queremos responder-lhe com Leonard Boff:”ensina teus passos /o caminho
dos sonhos/vives o tempo da coragem/a música do risco/ o tempo te desafia clamando.”
É neste desafio que reside a nossa ousadia, pela batalha da memória, da
intervenção cívica, na senda da democracia cultural, na sua aceção mais lata.
Este Ciclo de debates foi inaugurado em 25 de Janeiro, às 18.30.
Na 1ª sessão acerca da vida e pensamento de MLP que denominamos-mulher das sociedades
futuras-foi visionado o documentário "Maria de Lourdes Pintasilgo",
realizado por Graça Castanheira e apresentado o livro, resultante de um trabalho de investigação, Mulheres,
Liderança Política e Media, de Carla Martins, com a presença da
realizadora e da investigadora.
Na 2ª sessão, em 15 de Fevereiro, às 18.30, foram abordados os temas da Democracia Paritária,
designadamente de liderança, governabilidade, política e poder, novos modelos de gestão em sociedade, com a participação
das deputadas Mariana Mortágua e Rita Rato e a moderação de Ana
Sousa Dias (a deputada Isabel Moreira que estava inicialmente agendada não pode
comparecer).
Na 3ª sessão, em 14 de
Março, o tema centrou-se na Democracia
Cultural: as raízes da participação, as questões da identidade cultural, a
socialização e ética, o desenvolvimento e a qualidade de vida, com
participações da actriz Maria do Céu Guerra, da artista plástica
Joana Vilaverde e da musicóloga Helena Lima.
Nas três sessões forma lidos textos de Maria de Lourdes Pintasilgo, sobre
os temas em debate e tiveram uma adesão entusiasta da parte do público com
depoimentos e intervenções pertinentes, contribuindo para uma melhor e mais
profícua reflexão sobre a temática do “Cuidar o Futuro” e para um melhor
conhecimento da vida e obra de MLP.
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